Empresas oferecem clientes ocultos para avaliar produtos e serviços Fonte: G1, 31/08/2018
A crise econômica dos últimos três anos levou milhares de brasileiros a se especializar numa atividade que tem crescido muito, no país. Eles são consumidores, mas quase profissionais.
O Raphael é um crítico por essência. Até na hora do almoço.
“Eu olho o lugar que está pegando menos vento, o lugar que está mais quente, a posição das cadeiras”, conta o empresário Raphael Emerick.
Raphael não trabalha com restaurante ou coisa do tipo. Na verdade, ele é empresário e também uma espécie de dedo-duro ou um cliente oculto, como as empresas chamam. Raphael vai ao lugar, consome e depois conta o que achou.
Quem ouve tudo é o Lucas. Ele montou uma startup especializada em avaliar bares e restaurantes com as opiniões desse tipo de cliente. Aí, o Lucas consegue identificar o que está indo bem no negócio e o que precisa melhorar.
“A gente devolve isso para o restaurante para que ele possa analisar o resultado que teve, para que ele possa identificar com que ele se comporta e também identificar como que região ou como o mercado dele se comporta”, afirma Lucas Judice, fundador da empresa.
Em tempos de movimento fraco, essa informação pode fazer a diferença. Por isso, a Mônica, gerente de um restaurante, resolveu testar o serviço.
“Ele faz uma análise muito específica dentro de cada área. Então, área de atendimento, produto, logística”, diz Mônica Gianiselle.
Já teve coisa que você falou: “Opa, vamos mudar isso aqui?”.
“Já, inclusive na parte de treinamento de funcionário, foi uma coisa bem produtiva para a gente”.
Mas, e o Raphael? O que ele ganha com isso? O almoço! Funciona assim: ele paga pela refeição, mas depois pede o reembolso.
“Em até cinco dias o dinheiro está de volta na minha conta. Supersimples”, afirma Raphael.
Esse tipo de cliente tem em todo canto. Pode ser no restaurante ou em uma loja. Geralmente, quem trabalha no lugar não faz ideia que um cliente assim, tipo fiscal, pode aparecer. Mas se o dono do negócio tiver contratado o serviço, uma hora o tal cliente fiscal dá as caras. E tem muito mais gente topando fazer esse tipo de trabalho, virar cliente oculto, porque percebeu que isso dá uma graninha. E em tempos de desemprego...
“Do último ano para este ano aumentou cerca de 15% o nosso banco de dados. Então é um número que a gente não consegue determinar especificamente que é por conta do momento econômico que o país vive, mas a gente entende que existe um reflexo importante disso sim”, diz o empresário José Worcman.
A empresa do José já tinha uma lista grande de clientes ocultos. Mas, desde 2016, a quantidade de interessados aumentou e já são cerca de cem mil clientes no país inteiro. Como a Fernanda. Antes, ela fazia para ganhar um dinheiro extra. Só que, em 2016, ela ficou desempregada e o que era um bico virou a única fonte de renda.
“Eu faço, no mínimo, duas visitas por dia e, no máximo, sete”, conta a cliente oculta Fernanda Sartori.
Aí ela fiscaliza o lugar, manda o relatório e depois é reembolsada pela compra. Para fazer algumas visitas, a Fernanda recebe grana mesmo. Uma visita sair por volta de R$ 50, mas isso varia. E, trabalhando duro, ela diz que chegou a ganhar R$ 3 mil em um mês.
“Recebo em dia, sempre na data combinada. Então é um trabalho que é gostoso de fazer e gostoso de receber também”, diz ela.