Jovens e empreendedores, uma realidade entre estudantes pernambucanos
Fonte: Diario de Pernambuco , 27/03/2015
Pesquisa mostra que 18,6% dos universitários de Pernambuco esperam ter mais de 25 funcionários após cinco anos de negócio próprio contra 11% da média nacional
O sonho de empreender e criar o próprio negócio está cada vez mais presente na cabeça dos jovens universitários. E em Pernambuco, a vontade dos universitários de concretizar o sonho é mais forte que no restante do país. De acordo com a pesquisa Empreendedorismo nas Universidades Brasileiras, realizada pela organização de fomento ao empreendedorismo Endeavor em parceria com o Sebrae, 18,6% dos estudantes pernambucanos esperam ter mais de 25 funcionários após cinco anos de abertura da empresa. A média nacional é 11%.
“Esse é o número que consideramos o mínimo para a empresa ser considerada de médio porte, e ainda com potencial de crescimento”, explica Igor Piquet, coordenador regional da Endeavor no Nordeste. Entre os universitários que querem empreender, Pernambuco foi o estado que mais se destacou na pesquisa. “Isso foi o que mais nos surpreendeu. Mesmo com tantos casos de sucesso, a vontade de empreender entre os jovens do Brasil ainda é muito localizada.” No estado, 20,9% dos universitários consideram suas ideias inovadoras, contra 15,3% da média nacional.
Para Piquet, um fator importante para que a cultura empreendedora se consolide no meio universitário é a percepção de que ela não serve apenas para que faz cursos superiores voltados para a área de negócios. “É preciso que o empreendedorismo seja visto pelos jovens também como uma opção de carreira. Se um médico quer abrir o próprio consultório, por exemplo, vai ser muito útil se ele já tiver visto noções de como fazer isso ainda na faculdade.”
O destaque de Pernambuco no cenário nacional se deve a várias iniciativas voltadas para o empreendedorismo que acontecem dentro das universidades. A própria Endeavor oferece o Bota Pra Fazer, uma grade curricular eletiva baseada numa metodologia norte-americana de ensino. Segundo Piquet, o projeto “trabalha com a ideia de que o estudante de qualquer curso pode tirar suas ideias do papel e literalmente botar pra fazer.” Atualmente, o projeto acontece na Faculdade dos Guararapes e na Universidade Federal Rural de Pernambuco.
O professor Genésio Gomes percebeu a vontade que seus alunos tinham de entrar em contato com o mercado de trabalho ainda na faculdade e criou o Células Empreendedoras, programa que capacita alunos e professores a criar e desenvolver ideias inovadoras. “Os alunos queriam algo mais prático, então resolvi criar um programa de extensão que pudesse atender a essas necessidades.” Criado em 2008, o Células Empreendedoras já revelou alguns talentos como Caio Guimarães, o estudante que criou um emissor de luz capaz de matar bactérias resistentes e Marcos Rodrigues, hoje formado e à frente do Papo de Universitário.
A Liga Universitária de Economia Criativa, sediada na Universidade de Pernambuco (UPE), foi criada pela vontade que o presidente Péricles Borba tinha de conseguir experiência ainda na faculdade. “Conheci o modelo de ligas universitárias, que podem ser de vários temas diferentes, e escolhi a economia criativa por conta da afinidade com os outros estudantes do curso.” Segundo Borba, muitos dos estudantes de administração da UPE se escreviam em cursos mais voltados para a criatividade em outras faculdades, como design ou publicidade. “A resposta dos estudantes foi muito positiva.” Com pouco mais de um ano de criação, a Liga já é uma das mais importantes do país. “Começamos como emcubados da Fundação Estudar, e hoje somos parceiros.” A Liga conta com 20 alunos da UPE e desenvolve trabalhos através de palestras e workshops. Entre as ações programadas para esse ano está a participação na Campus Party Recife.
A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) possui uma incubadora para jovens empresas coordenada pela Diretoria de Inovação e Empreendedorismo (Dine). As empresas, que precisam ser criadas por estudantes ou funcionários da instituição, podem ficar encubadas por dois anos, período que pode ser aumentar para três em casos especiais. O Centro de Informática (CIn) tem a Projetão, disciplina voltada para a criação de startups entre os estudantes de informática, psicologia e design. Ao final de cada período os estudantes apresentam seus projetos para um público de empresários e especialistas que elegem a equipe vencedora, num evento realizado pela UFPE em parceria com a Softex Recife.
Quem levou o prêmio de melhor solução foi a Conte, startup que desenvolveu um aplicativo para smartphones voltado para facilitar a vida de crianças autistas. “Os autistas têm muita dificuldade de aceitar situações novas, como ir ao dentista ou cortar o cabelo. Assim, com o aplicativo, os responsáveis pela criança podem criar pequenas histórias em quadrinhos que auxiliem a criança a entender o que vai acontecer”, explica Letícia Regert, integrante da equipe que criou o Conte. “Tem também a opção de compartilhar a história com os outros usuários do aplicativo, ou então com o terapeuta para ele ver se está tudo certo.”
Com a aprovação conquistada e a disciplina concluída, a equipe agora pensa em levar o aplicativo adiante. “O Conte por enquanto está funcionando em fase beta. Entramos de férias, mas vamos voltar a nos reunir para continuar desenvolvendo o aplicativo.” Igor Piquet destaca o caráter social que o empreendedorismo pode ter. “Trazer empoderamento às pessoas e ser o próprio chefe são alguns dos grandes chamarizes do empreendedorismo. Mas além disso, ele também favorece a possibilidade de criar algo único e escalável que pode resolver o problema de muitas pessoas.”